A escola é o lugar do saber.
Então porque o aluno não aprende?
Porque o aluno se nega a delícia que é a aquisição do conhecimento?
Muitos professores sem prática para a reflexão preferem disseminar a fala dominante de colocar a culpa da não aprendizagem nas costas da família, da linguagem precária do aluno e do meio social onde ele vive.
O aluno não quer aprender e ponto, isso é o que mais se ouve nas salas dos professores.
Mas será que é assim mesmo que funciona?
Observando os alunos da escola em que trabalho, uma escola de periferia da Baixada Fluminense, me certifico que os alunos não aprendem não porque não querem, mas sim, porque não podem.
Esse não aprender não causa só a angustia nos professores, mas os alunos também são E acredito que a realidade por mim vivida é reflexo de muitas outras realidades vividas.Os alunos não sabem, porque a escola não os ensinou, essa é a verdade.
È extremamente polêmico este tipo de afirmação.
Porque o professor se nega a critica, a reflexão, a auto formação, é fatalmente continuará sendo um dos principais contribuintes dessa triste realidade:
A culpa da não aprendizagem está sempre fora da escola, e não dentro dela.
O aluno não pode aprender o que não sabe.
É preciso ter requisitos básicos por exemplo, para aprender raiz quadrada.
Mas como aprender raiz quadrada se o aluno chega a 6 º ano sem saber fazer as quatro operações matemáticas?
Se não sabe interpretar um pequeno texto? Sem saber se expressar oralmente?
Como resposta a isso entupimos as classes de aceleração, de reforço, e as classes especiais.
Essas soluções são meros paliativos para uma doença que parece não ter remédio.
O analfabetismo funcional crônico que invadiu nossas salas, que deveriam ser lugares privilegiados para o aprender.
Mas a verdade, é que nossos alunos tem inúmeras dificuldades para aprender, porque a escola lhes negou essa oportunidade.
Como garantir que nosso aluno tenha visão de mundo se a própria escola que não tem visão de mundo?
E cada vez mais vai-se aumentando a complexidade dos conteúdos, e com isso formando a inevitável bola de neve. Quanto mesmo o aluno sabe, menos ele sabe.
E com isso vai surgindo a triste realidade: Reprovação, evasão ou a aprovação automática, a escolher.
Dessa dificuldade de aprender nasce o desinteresse, a indisciplina, o descaso que tanto nos incomoda como professores.
Mas é preciso resistir.
Os modos de resistência para assegurar a aprendizagem estão dentro da escola mesmo: projetos, respeito a realidade do aluno, compreensão da sua linguagem e do seu meio, aulas dialógicas, aulas passeio, assuntos estes, que geralmente são discutidos nas reuniões pedagógicas, mas nunca colocadas em prática pelo professor que prefere o velho ao novo, com medo de errar.
Mas é preciso refletir se não foi esse medo da mudança, essa resistência muda ao novo que nos fez chegar onde estamos?
Para realizar a resistência, é preciso muito pouco: Basta o compromisso ético de fazer valer o pressuposto básica da escola: Fazer com que todos os alunos aprendam.
E boa vontade. De dirigentes municipais, estaduais, dos diretores, coordenadores e principalmente dos professores, que são a ponta desse processo.
Enquanto isso a escola publica, que tornou-se chata, burra, cristalizada e anti democrática espera o aluno pedagogicamente acabado, pronto para o conhecimento, sendo incapaz de reconhecer e seu próprio produto:Alunos que não fazem os deveres, alunos que não sabem ler e escrever, alunos que não sabem que as palavras se iniciam no canto direito da margem, alunos que só descobrem que estão numa escola quando se vêem diante de uma prova.
Aos professores conscientes de seu papel nessa mudança, meus respeitos e um singelo apelo que continuem resistindo para que todos os nossos alunos tenham o direito de aprender.
Por Fátima Reis
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